terça-feira, 19 de outubro de 2010

DISCURSO PROFERIDO PELO JUIZ DE DIREITO ADEMAR MENDES BEZERRA, REPRESENTANTE DA ACM – ASSOCIAÇÃO CEARENSE DE MAGISTRADOS, AO ENSEJO DA POSSE DOS NOVOS DIRIGENTES DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARA – TJCE – A SABER: DESEMBARGADORES JOSÉ MARIA DE MELO, ÁGUEDA PASSOS RODRIGUES MARTINS E JOSÉ ARI CISNE, RESPECTIVAMENTE NOS CARGOS DE PRESIDENTE, VICE-PRESIDENTE E CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA, NO DIA 03.02.1997.


O Brasil, assim como os demais Países integrantes da América Latina, graças aos novos ventos oriundos da grande Nação do Norte, a par do desaparecimento da guerra fria, tem alcançado gradativa estabilidade institucional, não tendo sido exitosas, felizmente, as tentativas de golpe de estado, haja vista o fracasso ocorrido em episódio recente no Paraguai, voltando-se o País no sentido de fortalecer a sua natural liderança no nascente Mercosul, que certamente haverá de levar as Nações sul-americanas ao mesmo progresso a que estamos assistindo junto à Comunidade Européia, medida das mais salutares, a propiciar dentro da brevidade esperada, o alevantamento cultural e econômico de que tanto necessitamos, viabilizando finalmente o nosso ingresso no denominado Primeiro Mundo, de há muito acalentado.

A estabilidade institucional, somada à econômica, decorrente do sucesso indiscutível do Plano Real, máxime no combate à inflação, fez melhorar o lastimável padrão de vida da sofrida gente brasileira, que passou quando menos a comer melhor, em face do barateamento da cesta básica, fomentando, outrossim, no seio da classe média, um maior consumo, inclusive de importados sem falar na intensificação do turismo.

Sem embargo do reconhecido progresso verificado na indústria, frente à abertura das importações, com a conseqüente baixa dos preços, em razão da salutar concorrência, além da inquestionável melhoria dos produtos nacionais, impera lamentavelmente grande desemprego e uma imoral concentração de renda, fazendo com que o nosso País seja equiparado em termos de justiça social, às Nações mais atrasadas, quase selvagens do Continente Africano.

O Brasil não obstante seja a mais expressiva economia do MERCOSUL e até bem pouco a oitava do Mundo, possui no entanto o mais baixo salário-mínimo, inferior ao da Argentina e do Paraguai, tendo em conseqüência baixíssimas condições de vida, inclusive nos Estados mais desenvolvidos do Sudeste, o que convenhamos, é deveras lamentável, urgindo gritante reparação.

A Saúde e a Educação, obviamente, deixam muitíssimo a desejar, sendo verdadeiramente criminosos os descasos ocorridos no Rio de Janeiro e em Caruaru, onde dezenas de pessoas morreram absolutamente à míngua do necessário tratamento - e o que é pior, sem a mínima punição - o que certamente não ocorreria se os autores de tais ações criminosas integrassem os denominados pês da vida: preto, pobre e prostituta.

Aqui mesmo no Ceará, a outrora boa e aparelhada Maternidade-Escola da Universidade Federal, se deparou com um quadro verdadeiramente dantesco - a morte de inúmeros recém-nascidos, por falta sobretudo, de incubadoras e, não fora a pronta atuação do Governador Tasso Jereissati, que há demonstrado para o Ceará e para o Brasil, a forma honesta e escorreita de governar, seja no combate à corrupção e à politicagem, seja no equilíbrio das finanças públicas, o lamentável episódio ter-se-ia transformado em calamidade.

A Educação, a exemplo da Saúde, não vem sendo tratada como merece, ao contrário, tem recebido um menosprezo total, quer no tocante ao 1º e 2º graus (inobstante o desejo do Governo, pelo menos nos pronunciamentos, de mudar), quanto no que concerne ao ensino superior, onde assistimos paulatinamente a extinção da Universidade gratuita, que no Ceará, tendo como parâmetro a Faculdade de Direito, a mais antiga e tradicional unidade universitária, a qual já não cerrou as suas portas, graças aos estudantes do Mestrado, dada a carência de professores e a proibição de novos concursos, além dos irrisórios salários, correspondentes muitas vezes, a menos de dez por cento dos vencimentos de Magistrados, Procuradores e membros do Ministério Público que ali lecionam.

O Governo quando chamado a oferecer explicações, diz que lhe faltam recursos para satisfazer tais necessidades, todavia não faltaram para socorrer bancos falidos, através do PROER - não sendo aceitáveis os esclarecimentos de que visavam sobremaneira salvaguardar o numerário dos aplicadores - posto que segundo veiculou o Jornal Folha de São Paulo, foram gastos mais de quatorze bilhões de reais, quando o montante de aplicações não alcançava cinco, donde a inexorável conclusão de que a parte mais ponderável dos recursos, mais do dobro foi destinada aos banqueiros.

O modelo europeu e americano não pode ser chamado à colação, a uma, porque a escola pública no Brasil já se acha falida há mais de vinte anos, sendo exceção o ensino público superior, a duas, porque o empresariado nacional, não tem o hábito de doar nada, sendo sabido e ressabido, que a mensalidade escolar não atingiria 20% dos recursos indispensáveis à manutenção da Universidade, cumprindo observar, por oportuno, que salvante as honrosas exceções, o empresário brasileiro, costuma privatizar o lucro e socializar o prejuízo, circunstância que levou o Governo a se tornar proprietário de milhares de empresas totalmente incompatíveis com as funções do Estado, estas sim, passíveis de imediata privatização, não a Companhia Vale do Rio Doce, verdadeiro patrimônio nacional, como recentemente acentuado pelo nosso valoroso BARBOSA LIMA SOBRINHO, do alto de seus cem anos de gloriosa existência.

Em recente entrevista prestada à revista Veja, o professor CELSO FURTADO, cujo nome dispensa apresentação, apesar de reconhecer que o desemprego campeia tanto na Europa como nos Estados Unidos, asseverou que inobstante no Brasil seja o setor industrial aquele mais dinâmico de nossa economia, não tem criado mais emprego, ao contrário, está fechando posto de trabalho, havendo hoje menos trabalhador na indústria do que há dez anos, não tendo a situação ficado calamitosa, frente ao crescimento populacional de 2% ao ano, porque o setor agrícola absorveu de 1990 para cá, mais de quatro milhões de trabalhadores.

Entretanto, e por paradoxal que possa parecer, tem o governo demonstrado bem maior preocupação em aprovar a emenda da reeleição, do que fazer a Reforma Agrária, que por certo contribuiria de forma manifesta para acelerar o nosso almejado desenvolvimento, a par de se não acabar, mas reduzir significativamente o desemprego que ainda grassa no País.

O quadro apesar de preocupante, de inspirar cuidados, tem solução: basta a vontade firme e deliberada de querer fazer, como têm demonstrado os governantes do Estado e do Município de Fortaleza, cujos exemplos devem ser seguidos, haja vista o prestígio de que desfrutam junto ao povo cearense e porque não dizer do Brasil, cumprindo relembrar a observação do ex-ministro e Governador da Bahia Senador Antônio Carlos Magalhães, consoante a qual não se toma nenhuma grande decisão no País, sem se ouvir o Governador do Ceará.

Os Poderes Legislativo e Judiciário, vêm recebendo críticas mordazes, quer da Imprensa, quanto de Profissionais Liberais: o primeiro por não possibilitar com a urgência desejada, as emendas constitucionais reputadas indispensáveis à governabilidade, sem as quais asseveram, o País não pode prosperar - esquecendo-se os críticos que nos Estados Unidos, emendas constitucionais têm levado às vezes mais de vinte anos para serem aprovadas e nem por isso se ouviu falar que os Estados Unidos fossem ingovernável - o último, sob color de ser dentre os Poderes da República, o único sem nenhum controle, além daquele que sobre si mesmo venha a exercer, daí os constantes pronunciamentos exigindo o controle externo do Judiciário.

Aqui mesmo em nossa Província, a exemplo das demais Unidades Federativas, deputados dos mais diversos partidos e ideologias, têm pugnado pelo Controle social do Poder Judiciário, quer exigindo a fiscalização do gerenciamento administrativo e financeiro do Poder, porquanto suas verbas são provenientes dos impostos e taxas pagos pela população, quer no sentido de que a demanda seja julgada rapidamente e que o infrator seja condenado e cumpra sua pena, alcançando o braço da Justiça o criminoso rico.

Não adianta responder como fez questão de observar o Desembargador JOSÉ OZÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR, por ocasião de um discurso em solenidade similar no Tribunal de Justiça de São Paulo, por haver se revelado inócuo dizer: que se faz o possível, que há esforços heróicos por parte de abnegados Juízes, que os recursos financeiros são escassos e que a legislação é insatisfatória e limitante. Já não se trata mais de saber de quem é a culpa. Cuida-se de encarar o dado da realidade, ou seja, a existência concreta da crítica, que persiste por anos e anos ..."

Consoante a mesma fonte, pior ainda é não resistir à tentação de revidar às críticas, estabelecendo-se com as acusações recíprocas, "um estranho confronto de qualidades negativas", donde a assertiva do Magistrado Paulista: "Nesse concurso perverso, o cidadão, aturdido, não elege nem absolve nenhum dos Poderes: dirige seu rancor ou sua ira contra todos, com funestas conseqüências institucionais".

Bater às portas do Supremo Tribunal Federal, como pretende a Associação dos Magistrados Brasileiros, na hipótese de concretização do controle externo, estribada, inclusive no pensamento do eminente jurista SAULO RAMOS, para quem a criação do nomeado controle, mesmo através de revisão constitucional afrontaria o disposto no artigo 60, parágrafo 4º, inciso III, da Constituição da República, posto representar tal princípio, cláusula pétrea, instituída pelo Legislador Constituinte em defesa do povo, não se me afigura a medida mais aconselhável, uma vez que a população realmente deseja mudanças em todos os Poderes da República.

O Judiciário Cearense optou por reconhecer as críticas, partindo sem mais delongas, em busca dos verdadeiros anseios da população, donde a regulamentação da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, através da Lei Estadual n.º 12.553, de 27 de dezembro do mesmo ano, implantando sem exceção em todos os Distritos da Comarca de Fortaleza, os Juizados Cíveis e Criminais, inclusive nas principais regiões do interior do Estado, fazendo com que literalmente a Justiça fosse ao encontro do Povo.

Outras medidas de indiscutível alcance social, se tornaram realidade durante a profícua administração do eminente Desembargador JOSÉ ARI CISNE na Presidência do Egrégio Tribunal de Justiça, tais como a informatização da Justiça da Capital e do Interior, inclusive via INTERNET, viabilizando a interligação de todas as Comarcas com o Tribunal de Justiça e com o Fórum Clóvis Beviláqua, bem assim com os Tribunais Superiores e demais Tribunais e Juízos do País, fazendo com que a Justiça do Ceará seja havida como JUSTIÇA DE PRIMEIRO MUNDO.

A construção e recuperação de inúmeros fóruns, a par do reaparelhamento das comarcas, foi mais um grande tento da gestão do Desembargador José Ari Cisne à frente do Tribunal de Justiça do nosso Estado.

A criação do Memorial do Judiciário Cearense, assim como a reestruturação da Biblioteca Geral do Tribunal de Justiça, além da recuperação de suas instalações, vêm de se constituir providências de inegável alcance cultural, as quais haverão de proporcionar à Comunidade Judiciária, não somente a perpetuação da Memória Jurídica do Estado, sob os mais variados aspectos, como permitirá o ingresso da juventude acadêmica no passado certamente esquecido, não fora a feliz iniciativa da administração que ora se finda, providências essas que inscreverão o nome do Desembargador José Ari Cisne nos fatos deste centenar Tribunal de Justiça, sendo lícito observar que para a consecução de tamanho desiderato, contou o Presidente Ari Cisne com a diuturna colaboração dos Desembargadores José Maria de Melo e Carlos Facundo, que o ajudaram a conduzir com maestria os destinos desta benfazeja Instituição, sem que se possa olvidar também, o apoio de seus Ilustres Pares e do Corpo Funcional.

Senhor Presidente

O antigo Tribunal de Relação do Ceará, denominado de Tribunal de Apelação, com o advento da República, depois novamente de Tribunal de Relação, mais tarde de Superior Tribunal de Justiça, Corte de Apelação e finalmente, Tribunal de Justiça, vem de implementar no dia de hoje, 03 de fevereiro de 1997, cento e vinte e três anos de proficiente existência, seja pelo acerto de suas decisões, seja pelo notório saber de seus membros, ressaltando-se que no Império quanto na República, muitos deles alcançaram as mais elevadas Cortes de Justiça do País, coincidindo o aniversário de sua instalação, com a solenidade de posse de Vossa Excelência, Desembargador José Maria de Melo, no cargo de Presidente deste vetusto Tribunal de Justiça do Ceará, para gáudio não apenas de seus distintos familiares e de sua Excelentíssima esposa, Dona Terezinha Farias Lima de Melo, dos seus queridos conterrâneos, quer os do Riacho dos Guimarães, hoje Groaíras, quer os da heráldica cidade de Sobral, bem como de todos quantos integram a Magistratura Cearense e porque não dizer Brasileira, uma vez que na qualidade de Presidente da Associação Cearense de Magistrados e de Vice-Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, haja vista o prestígio de que passou a desfrutar a Associação Cearense de Magistrados, depois do indiscutível sucesso do XIV Congresso dos Magistrados Brasileiros, o maior de quantos já foram realizados no País.

De Vossa Excelência, Senhor Presidente, posso falar de cátedra, porque o conheço há mais de quarenta anos, quando fui seu aluno de matemática, no Ginásio Municipal de Sobral, época em que saído do Seminário Diocesano, a mais expressiva escola da Zona Norte do Estado, obra do inolvidável Dom José Tupinambá da Frota, Bispo Conde de Sobral, ensaiava os primeiros passos de sua inconteste liderança, nesse tempo, junto ao Centro Estudantal Sobralense.

Tão logo concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio Dom José da Princesa do Norte, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, bacharelando-se em 1961, tendo sido o orador da turma, da qual pertenceram dentre outras figuras das mais expressivas do mundo artístico e jurídico, máxime do Ceará, o humorista Renato Aragão e os hoje desembargadores Júlio Carlos de Miranda Bezerra, Carlos Facundo, Edmilson da Cruz Neves e os juízes José Hélder de Mesquita e Antônio Mário Cardoso.

De posse do pergaminho e do anel de doutor, partiu para a cidade de Sobral, onde mais uma vez fez brilhar a sua indiscutível liderança, obtendo a maior votação para Deputado Estadual dentro do município, que à época de seu nascimento, lhe serviu de berço, posto que Groaíras então integrava o município de Sobral, e ter-se-ia tornado indubitavelmente Deputado, se o Brasil tivesse adotado o voto distrital, de há muito almejado pelas lideranças locais, mas até hoje infelizmente não implantado, tendo contado naquela oportunidade, lícito é ressaltar, com o inestimável apoio do Padre José Palhano de Sabóia, de saudosa memória.

Não fora a aprovação no concurso para Juiz de Direito em 1962, teria ocupado na qualidade de suplente, uma dessas cadeiras de Deputado à Assembléia Legislativa, cuja Presidência foi exercida recentemente por seu irmão, o Deputado Moésio Loiola.

Distinta Mesa

Da comarca de Farias Brito foi o então Juiz de Direito José Maria de Melo, promovido pelo critério de merecimento para a Comarca de Morada Nova e nesta qualidade, nomeado Corregedor Geral da Justiça, quando ainda Juiz de 2ª entrância, sendo sucessivamente promovido para a comarca de Granja, de 3ª entrância, removendo-se para a de Tauá, de onde alcançou promoção a exemplo das demais, sempre por merecimento, para a Capital do Estado, tendo continuado até a implementação do seu mandato, à frente da Egrégia Corregedoria Geral da Justiça.

Iniciou a judicatura na Capital pela 9ª Vara Criminal, removendo-se para 2ª de Família e Sucessões e posteriormente para a Vara Única de Menores, em cujo Juizado mostrou a força de sua operosidade, chegando inclusive, a ser eleito Presidente da Associação dos Juízes Menoristas do Brasil e membro da similar internacional.

Bacharelou-se pela Escola de Administração do Ceará, em Administração Pública e de Empresa, de cuja Faculdade ocupou a titularidade da Cadeira de Direito Comercial, logrando aprovação nesta disciplina em concurso para a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará.

Eleito várias vezes Presidente da Associação Cearense de Magistrados, consagrou-se a mais pujante liderança da Magistratura do Ceará, tendo sem dúvida alguma, inscrito o seu legendário nome, nos anais da ACM, conseguindo graças ao seu denodo e acendrado espírito público, a sede da General Bizerril, o Clube dos Magistrados, três casas de praia, além de outras inestimáveis obras de caráter cultural, culminando já na sua última gestão na Presidência de nossa gloriosa associação, adquirido a Casa dos Magistrados, a Colônia de Férias Senador Carlos Jereissati, contando para tanto com a prestimosa colaboração do industrial Carlos Francisco Jereissati, ilustre filho do homenageado e irmão do eminente Governador Tasso Ribeiro Jereissati.

O Desembargador José Maria de Melo chegou ao Tribunal de Justiça a 17 de outubro de 1985, tendo adquirido o respeito e a admiração de seus pares, sendo escolhido e eleito nos exercícios de 1998 e 1989, Vice-Presidente-Coregedor Regional Eleitoral e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, presidindo a primeira eleição para a Presidência da República, em nosso Estado, após mais de vinte anos de regime de exceção.

No biênio compreendido entre 02 de fevereiro de 1995 a 02 de fevereiro de 1997, ocupou a Diretoria do Fórum Clóvis Beviláqua, por força de sua condição de Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, de cujo Fórum já fora Vice-Diretor, fazendo uma verdadeira revolução em termos administrativos, sem falar que contribuiu decisivamente para a implantação das Secretarias de Varas, em substituição às antigas Escrivanias, tomando providências de grande alcance social e de enorme repercussão perante a Comunidade Forense: Advogados, Defensores Públicos e Membros do Ministério Público, a par do corpo funcional do Fórum Clóvis Beviláqua, cumprindo destacar além da implantação em todos os Distritos da cidade de Fortaleza, dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais e da informatização de todas Varas da Comarca da Capital, com computadores de última geração, quer nas Secretarias quanto nos Gabinetes dos Juízes, contando para esse fim com a inarredável colaboração do Presidente José Ari Cisne.

Estabeleceu também os plantões diários, com a presença efetiva do juiz das 18 às 06 horas do dia seguinte e durante todo o dia, nos sábados, domingos e feriados, de modo a coibir sobretudo as prisões ilegais.

A Ouvidoria, assim como a descentralização das funções administrativas repartidas entre seis Vice-Diretores, hoje com previsão legal, muito tem contribuído para o efetivo andamento dos trabalhos judiciários no Fórum Clóvis Beviláqua e seus anexos, haja vista o êxito alcançado no mutirão, onde foram julgados várias centenas de processos.

A recuperação e informatização do Depósito Público, o Arquivo Processual, o Júri e os Juizados Especiais nas Universidades, o Juizado Especial Móvel em parceria com o DETRAN, destinado a resolver sem tardança as questões decorrentes de acidente de trânsito, onde tenham havido exclusivamente danos materiais, experiência inovadora e já vitoriosa, pelo que se infere do relatório dos dois primeiros meses de funcionamento, onde se observou conciliação de quase cem por cento - são medidas que ao lado da criação do TELEJUSTIÇA, facilitando substancialmente a vida do usuário, assim como de seus procuradores, possibilitando a consulta dos dados processuais, de suas próprias residências ou dos Escritórios Advocatícios, têm propiciado, repita-se, grandiosa repercussão no meio forense, esperando-se que na data destinada à Justiça, 08 de dezembro de 1997, possa o eminente Desembargador JOSÉ MARIA DE MELO, inaugurar as novas instalações do Fórum Clóvis Beviláqua, anseio de há muito acalentado pela Comunidade oficiante nos Auditórios do Estado, dispondo para execução dessa magnífica obra, não apenas dos recursos do FERMOJU e da Conta Única, bem assim das verbas do Governo do Estado, da União e do Município de Fortaleza, além naturalmente da prestimosa e diuturna colaboração de seus ilustrados pares e juízes, máxime dos eminentes Desembargadores Àgueda Passos Rodrigues Martins e José Ari Cisne, respectivamente, vice-presidente Diretor do Fórum e Corregedor Geral da Justiça.

Nesta oportunidade deve ser ressaltado por dever de justiça, que os insignes Desembargadores José Ari Cisne e José Maria de Melo, demonstraram especial atenção no treinamento de servidores e Magistrados, inclusive no Exterior, contando, para tanto, com o indispensável apoio da Escola Superior da Magistratura, ora dirigida pelo conspícuo Desembargador Francisco Haroldo Rodrigues de Albuquerque, que tem na pessoa do Juiz Francisco de Assis Filgueira Mendes, exemplar colaborador, tendo contado igualmente com o apoiamento de nossas três Universidades, bem como da Fundação Paulo Bonavides.

Na qualidade de Presidente da ACM, muito contribuiu para a criação e instalação do Instituto dos Magistrados do Ceará, tendo adquirido recentemente seis salas em majestoso edifício alencarino, onde funcionará mediante comodato a sede da referida Academia, imprescindível ao aprimoramento cultural dos Magistrados.

Ao dar por concluída a minha já demorada alocução, pelo que me penitencio perante esta seleta assistência, devido em grande parte, ao enorme curriculum do nobre empossando e por não menores realizações, todas dignas de realce, quero fazer minhas as palavras de Sheely, que muito bem servem à figura de nosso homenageado: "sábio por natureza, justo por destinação e independente por hábito", eis a razão de seus treze votos para o Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Cumpre-me dizer, ainda, especialmente para os jovens Magistrados, na feliz expressão de CALAMANDREI, de que "o juiz é o Direito tornado homem", daí se inferindo a sua relevante missão junto à Sociedade, sobejamente retratada por NICOLA, que sobre ela assim se expressou:

"Não sei conceber nada mais alto, nem mais solene, nem mais terrível, do que a missão do Juiz. Descobrir a verdade entre as mentiras que o envolvem e as astúcias que o insidiam, resistir às paixões que o cercam, ser justo sem indulgência nem rigor, conhecer o coração humano com as suas fraquezas e nas suas imperfeições, não obedecer aos ódios e não se deixar arrastar pelas querenças, manter-se impassível ante os contrastes e os choques da vida, traçar os limites do justo com mão segura e com olhar esperto, ser intérprete não da palavra, mas do espírito informador e vivificador da lei, dispor da honra, dos haveres, do futuro, da própria vida de seus semelhantes. Tal seu complexo de deveres tão altos e solenes que da alma arrancam este grito: Que funções sublimes!"

No mesmo sentido os ensinamentos de Dom Quixote a Sancho Pança, o seu fiel escudeiro às vésperas de sua nomeação para Governador da Ilha da Baratária, in Dom Quixote de La Mancha, obra prima da literatura universal, fruto do talento imarcescível de D. Miguel de Cervantes e Saavedra:

"Nunca interpretes arbitrariamente a lei, como costumam fazer os ignorantes que têm presunção de agudos.

Achem em ti mais compaixão as lágrima do pobre, mas não mais justiça do que as queixas do rico.
Procura descobrir a verdade por entre as promessas e dádivas do rico, como por entre os soluços e importunidade do pobre.

Quando se puder atender à eqüidade, não carregues com todo o rigor da lei no delinqüente, que não é melhor a fama do juiz rigoroso que a do compassivo.

Se dobrares a vara da justiça, que não seja ao menos com o peso das dádivas, mas sim com o da misericórdia".

Tenho certeza de que ao término dos mandatos dos insignes dirigentes do Egrégio Tribunal de Justiça do Ceará, Desembargadores José Maria de Melo, Águeda Passos Rodrigues Martins e José Ari Cisne, diremos como o fez LUIZ DE CAMÕES, o maior vate da língua portuguesa, em um de seus célebres sonetos:

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando-se sempre novas qualidades,
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança,
E do bem, se algum houve ,as saudades".


Tenho dito.

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